Na Consulta Nacional da Categoria Bancária, realizada neste ano com quase 47 mil trabalhadores do setor de todo o país, o tema Igualdade de Oportunidades apareceu na 5ª colocação entre as prioridades da classe, relacionadas às cláusulas sociais. Entretanto, quando analisado separadamente as respostas de homens e mulheres, Igualdade de Oportunidades apareceu na 1ª colocação para 65% das bancárias, atrás de outros temas das cláusulas sociais, como manutenção de direitos, combate ao assédio moral e emprego. Enquanto que, para a maioria dos homens, manutenção de direitos é que aparece na 1ª colocação, ficando Igualdade de Oportunidades somente na 6ª posição.
“Esse resultado aponta que as mulheres bancárias percebem claramente a situação de desigualdade salarial entre gêneros e de ascensão profissional dentro das empresas”, destacou a coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira, durante a mesa Igualdade de Oportunidades, realizada com a Fenaban nesta quinta-feira (11), como parte das negociações da Campanha Nacional de 2024, para renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria.
Os trabalhadores colocaram na mesa números que revelam a existência de grande desigualdade salarial e de acesso no setor bancário, com base em relatório elaborado pelo Dieese a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2022, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Apesar de representarem quase 48% da categoria, as bancárias têm remuneração média 20% inferior à remuneração média dos homens bancários. O recorte racial revela uma distorção ainda pior: as mulheres bancárias negras (pretas e pardas) têm remuneração média 36% inferior à remuneração média do bancário branco.
Por conta dessa diferença, para que as mulheres negras bancárias recebam a mesma remuneração que os colegas homens e brancos, elas teriam que trabalhar num mês de 48 dias ou mais sete meses do ano para haver igualdade salarial. “Quando olhamos o quadro geral, de todo o mercado de trabalho no país, as mulheres recebem cerca de 22% menos de remuneração que os homens. Então, o retrato da nossa categoria não é muito diferente do cenário nacional. Isso é preocupante porque mostra que, nos bancos, há um reflexo de desigualdades que precisa e deve ser combatido”, destacou Juvandia, que também é presidenta da Contraf-CUT.
As desigualdades salariais de gênero se repetem em praticamente todos os cargos do setor bancário, mas se aprofundam nos cargos de liderança, onde elas recebem cerca de 25% menos que seus pares, e quanto maior for a escolaridade, onde as bancárias com doutorado recebem 61% da remuneração média dos homens bancários também com doutorado. As mulheres recebem mais que os homens em apenas 2,8% do total das ocupações no setor bancário.
“Por que uma mulher negra recebe diferente de uma mulher branca ou um homem branco, exercendo a mesma função? Não há justificativa para isso, a não ser um problema estrutural que temos que enfrentar, por uma questão de reparação histórica”, alertou Neiva Ribeiro, que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP).
Questão racial
Apesar de negros e negras representarem mais de 56% da população, segundo o IBGE, compõem 26,2% da categoria bancária, sendo as mulheres negras apenas 12% do total de trabalhadores no setor. Esse dado, da Rais de 2022, mostra uma leve melhora no setor, considerando que, dez anos antes, em 2012, negros e negras representavam 18,9% da categoria.
Também há diferença salarial significativa entre homens bancários brancos e negros, com o segundo grupo recebendo remuneração média de 78,9% da remuneração média dos brancos. “Para que os bancos não continuem reforçando essa discriminação que está materializada no dia a dia, entre homens e mulheres, negros e negras, precisamos de mudança, mas essa mudança só vai acontecer com diálogo e enfrentamento em pontos sensíveis como acesso e ascensão”, completou Juvandia.
Redução de mulheres na TI
Os bancários também mostraram que está havendo uma redução de mulheres contratadas em todos os cargos do setor. Entre janeiro de 2020 e maio de 2024, houve redução de 11.514 postos. Porém, quando é feito o recorte de gênero, o saldo positivo de emprego bancário entre homens foi de 1.331 postos, enquanto para as mulheres, foram eliminados 12.845 postos. Portanto, a cada um homem contratado no período, nove mulheres foram desligadas.
Nesse período, na área que teve mais contratação nos bancos, a de TI, ocorreram 19,9 mil admissões, porém, desse total 78% das vagas foram destinadas aos homens e o restante (22%) às mulheres.
Canais de combate ao assédio
A secretária da Mulher da Contraf-CUT e coordenadora da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Fernanda Lopes, cobrou informações sobre a implementação das cláusulas conquistadas nas campanhas de 2020 e 2022, de prevenção e combate à violência doméstica e familiar e de combate ao assédio sexual. "Queremos os números, saber quantas são e a forma como as mulheres vítimas foram atendidas, se foram acolhidas realmente, protegidas e não revitimizadas", explicou Fernanda.
Em seguida, ela apresentou os números dos canais “Basta! Não irão nos calar”, programa de assessoria jurídica humanizada a mulheres em situação de violência doméstica e familiar, de iniciativa do movimento sindical bancário. "Atualmente temos 13 canais, com 449 mulheres já atendidas: desse total, foram geradas 235 medidas protetivas, com base na Lei Maria da Penha", destacou.
Reivindicações
- Cumprimento da Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres, especificamente no ponto sobre o Relatório de Transparência Salarial:
> Correção e adequação dos relatórios divulgados;
> Divulgação dos dados por empresa e não somente por estabelecimento (CNPJ);
> Informação sobre o número absoluto de trabalhadores e trabalhadoras;
> Compartilhamento de relatórios com os trabalhadores e com o Comando Nacional dos Bancários, para facilitar o acompanhamento.
- Realização do 4º Censo da Diversidade da categoria (o último foi divulgado em 2019).
Neste ponto, os trabalhadores lembraram que a realização do Censo da Diversidade é um compromisso firmado na CCT para ser realizado a cada cinco anos, período vencido.
- Olhar especial para as trabalhadoras e os trabalhadores transexuais, dada a vulnerabilidade social desse grupo, para que, além de terem acesso às vagas no setor, consigam permanecer e ascender na carreira.
“O Brasil lidera o ranking de países que mais matam pessoas trans no planeta, pelo 15º ano consecutivo", destacou a secretária da Juventude da Contraf-CUT e militante LGBTQIA+, Bia Garbelini, com base em dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Ela ressaltou que isso é fruto de um forte preconceito que leva essa população a ter uma expectativa média de vida de 35 anos no país, e também a terem piores condições de educação, saúde e trabalho.
“Mesmo quando acessam o emprego bancário, por causa do preconceito, muitos não conseguem prosseguir e outros não conseguem permanecer na carreira. Por isso, temos que conscientizar os demais trabalhadores e trabalhadoras no setor”, completou Bia.
"Dentro da pauta para os trabalhadores LGBTQIA+ nós destacamos a questão da população trans, por causa da sua grande vulnerabilidade, cobrando cota de acesso, políticas de formação e capacitação”, reforçou Juvandia.
Um dos exemplos bem sucedidos no setor, que foi destacado pelos trabalhadores, é o caso do Banrisul, que abriu um concurso público com cota de 1% para a população trans, e teve esse percentual superado no processo seletivo. Existe ainda um ordenamento para que órgãos do governo federal tenham reserva de vagas em concursos públicos para transexuais e indígenas.
- Adesão de todos os bancos ao Programa Empresa Cidadã, para que todos pratiquem a licença maternidade de 180 dias e licença paternidade de 20 dias.
"Também pontuamos que as mulheres tenham a garantia de que não terão nenhum prejuízo em suas carreiras no retorno da licença maternidade”, destacou Juvandia.
- Programas de promoção de acesso à ascensão de negros e negras, além de igualdade salarial para toda a categoria.
- Programas de promoção para acesso e permanência de mulheres nas áreas de TI.
- Balanço, por bancos, sobre a implementação e realização dos programas de combate ao assédio e à violência doméstica.
“Como resultado desta mesa, os representantes dos bancos indicaram o compromisso de buscar soluções para esses problemas. Vão se reunir com as empresas para trazer propostas que respondam as reivindicações da categoria”, destacou Juvandia.
Calendário
Julho
18 e 25/07 – Saúde e condições de trabalho: incluindo discussões sobre pessoas com deficiência (PCDs), neurodivergentes e combate aos programas de metas abusivas
Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição
Jornalista/Fonte
Contraf-CUT