Sindicato alerta para precarização do trabalho, fechamento de agências e retirada de direitos bancários.
Na última quinta-feira (03/07), a Câmara dos Deputados sediou uma audiência pública acolhendo uma pauta que o movimento sindical já vem denunciando há tempos: as práticas de terceirização adotadas pelo Santander no Brasil. O foco do debate foi a denúncia de contratações fraudulentas dentro do próprio conglomerado do banco espanhol, com impacto direto sobre os direitos da categoria bancária e os serviços prestados à população. A audiência foi convocada pela deputada Erika Kokay (PT-DF), que também é bancária da Caixa, e integra a campanha nacional em defesa do emprego bancário.
Representando o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região e a Fetrafi-RS, o dirigente Luiz Cassemiro participou da atividade, ao lado de lideranças sindicais de várias regiões do país, além de representantes do Ministério Público do Trabalho. O banco Santander, que também foi convidado a participar da audiência, não compareceu, enviando apenas uma carta que foi lida no plenário.
Mais de 30 empresas e milhares de trabalhadores terceirizados
Nos últimos cinco anos, o Santander criou ou adquiriu mais de 30 empresas com CNPJs distintos, como Pulse, F1RST, Tools, Tripo AAA e Prospera. Essas empresas têm contratado trabalhadores para exercer funções típicas da atividade bancária, como a venda de produtos financeiros, mas sem que esses profissionais sejam reconhecidos como bancários.
Na prática, o banco terceiriza atividades-fim, o que contraria o que defendem os sindicatos e configura, segundo as entidades, uma manobra para reduzir custos, enfraquecer a organização sindical e burlar a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria.
Um dos casos mais emblemáticos citados na audiência foi o da empresa Pulse Client Experts, com sede em Novo Hamburgo (RS), que emprega cerca de 9 mil pessoas. Embora os trabalhadores sejam formalmente registrados nos setores de telemarketing ou tecnologia, atuam diretamente na oferta de produtos bancários e são obrigados, inclusive, a apresentar certificações como CPA-10, CPA-20 e CFP, normalmente exigidas para a função de bancário. “Esses trabalhadores fazem o mesmo serviço que um bancário, mas com salários e benefícios muito inferiores. Isso é uma forma de precarização e exclusão da categoria”, alertou Cassemiro durante a audiência.
Fechamento de agências e prejuízo à população
A terceirização interna adotada pelo Santander também está ligada ao fechamento de agências físicas. De acordo com dados apresentados pelas entidades sindicais, mais de 450 unidades do banco espanhol foram encerradas nos últimos três anos em todo o país, especialmente em regiões do interior.
Esse movimento tem impactos diretos na vida da população, que perde o acesso ao atendimento presencial e é forçada a recorrer exclusivamente aos canais digitais, muitas vezes sem a estrutura adequada. Ao mesmo tempo, os clientes continuam pagando altas tarifas bancárias e enfrentando dificuldades no suporte. “O banco opera no Brasil por meio de concessão pública. Ele tem o dever e o compromisso de oferecer um serviço de qualidade à população, mas está promovendo um verdadeiro abandono de comunidades”, criticou Cassemiro.
Ameaças a aposentados e ao Banesprev
Outro ponto denunciado foi a tentativa do Santander de se desvincular do Banesprev, fundo de pensão que complementa aposentadorias de ex-funcionários do Banespa e do Meridional, banco com raízes no Rio Grande do Sul. A medida atingiria diretamente idosos e aposentados que dependem da estabilidade do fundo para manter suas condições de vida.
Lucros altos, compromisso baixo
Apesar de todas essas ações, o Santander segue registrando lucros expressivos no país. O Brasil representa cerca de 20% do lucro global do banco, ficando atrás apenas da Espanha, sua matriz. Mesmo assim, a postura adotada pela instituição no território nacional tem sido marcada por retirada de direitos, precarização do trabalho e desrespeito às representações sindicais. "É inaceitável que uma instituição financeira multinacional do porte do Santander priorize o lucro em detrimento dos direitos trabalhistas, recorrendo à terceirização como ferramenta para aumentar seus ganhos às custas da dignidade e do bem-estar dos trabalhadores.
A terceirização tem sido utilizada para precarizar as relações de trabalho, reduzir salários, enfraquecer a representação sindical e concentrar ainda mais os lucros. Nossa luta é pela valorização de todos os trabalhadores que atuam no sistema financeiro. O Banco Santander precisa respeitar seus trabalhadores, seus clientes e o Brasil", concluiu Cassemiro.
O SindBancários de Porto Alegre e Região reforça sua denúncia contra essa política de terceirização fraudulenta e convoca os trabalhadores do sistema financeiro e a sociedade a se manterem mobilizados. Defender o emprego, os direitos históricos e a organização sindical é essencial para garantir dignidade no trabalho e acesso a serviços de qualidade para toda a população.
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Clique aqui e assista na íntegra a fala do diretor do Sindbancários Porto Alegre e Região, Luiz Cassemiro.
Fonte: SindBancários Poa e Região