Atividade virtual reuniu, no último sábado (05/07), trabalhadores e dirigentes sindicais para discutir saúde, previdência e o papel social do Banco do Brasil.
Como preparação para o Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, que ocorre em agosto, foi promovido, no último sábado, o Encontro Estadual dos Funcionários do BB. Realizada de forma virtual, a atividade reuniu dezenas de bancários e dirigentes sindicais do SindBancários Porto Alegre e Região, de sindicatos do Interior e da Fetrafi-RS para discutir temas centrais como o custeio da Cassi, a situação da Previ e o papel do banco público e a definição da delegação para o Congresso.
“Ficamos muito felizes com a participação dos colegas, que trouxeram seus relatos sobre como estão suas agências, citando casos específicos de cada unidade e outros que se somam ao cenário mais geral dos trabalhadores do banco. Isso é muito importante pois, ouvindo o que nos trazem, podemos contribuir para sanar as dificuldades, enquanto representação do estado”, afirmou Priscila Aguirres, diretora do SindBancários e da Fetrafi-RS, e representante dos trabalhadores do RS na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB).
Modelo de banco público em disputa
A coordenadora da CEBB, Fernanda Lopes, destacou o processo de transformação de agências do BB em lojas, com redução de atendimento presencial, o que impacta especialmente a população de cidades do Interior. Fernanda alertou para a necessidade de cobrar do banco seu papel social.
“O BB não fechou agências, mas vem transformando em lojas, com pouco atendimento ao público. Em muitas cidades menores só tem BB e Caixa, e o banco público precisa atender quem mais precisa”, pontuou. Ela destacou ainda problemas no atendimento em diversos estados, como falta de caixas e sobrecarga de trabalho, e defendeu negociações específicas sobre esse tema.
Negociações com o banco e saúde dos trabalhadores
Outro ponto levantado foram as dificuldades nas negociações com o banco para avançar em temas como um modelo sustentável de custeio da Cassi, principal tema em debate com o BB no momento. Ela informou que estão previstas duas mesas nesta semana: uma nesta segunda (8/7), sobre teletrabalho, e outra na sexta (11/7), sobre a Cassi.
A Cassi exige mudanças urgentes no modelo de financiamento, a fim de sanar o déficit atual, segundo Fernanda. Atualmente o banco arca com 52% dos custos e os trabalhadores com 48%, mas a proposta do movimento sindical é alterar para 70% (banco) e 30% (trabalhadores). “O banco precisa se responsabilizar pela saúde dos funcionários, até porque muito do uso da Cassi decorre de adoecimento no trabalho, especialmente mental. Nosso custo de saúde cresce muito com a inflação médica, enquanto nossos salários não acompanham”, explicou.
A coordenadora criticou a lentidão das negociações. “Tivemos quatro mesas para tratar do custeio, mas anda muito devagar, a última foi em maio. Esperamos que na desta semana o banco finalmente apresente uma proposta que contemple as reivindicações da categoria. Queremos resolver isso até o fim do ano, com reforma estatutária, garantindo mais investimento do banco e corrigindo distorções do passado”, destacou.
Ela também apontou o assédio como um dos causadores do adoecimento nos bancos. “Finalmente avançamos com a inclusão de cláusula sobre assédio moral na CCT (Convenção Coletiva de Trabalho), mas precisamos que seja implementada. Não podemos admitir que as pessoas tenham que tomar remédio para conseguir suportar, elas têm que poder trabalhar sem adoecer”, salientou.
Cassi: situação financeira e necessidade de mudança
A situação da Cassi foi detalhada por Cristiana Garbinatto, diretora da Fetrafi-RS e conselheira deliberativa da Cassi. Ela apresentou números atualizados dos planos, especialmente o Associados, patrocinado pelo banco, que é de suma importância para os trabalhadores, em especial os aposentados, que mais precisam de atendimentos de saúde e pagam um preço menor do que pagariam em outros planos. No Associados hoje há 178 pessoas com mais de 100 anos.
Entretanto, em função da forma de custeio do plano Associados, a Cassi apresenta déficit, que já consumiu reservas e poderá alcançar R$ 825 milhões negativos em todos os planos ainda neste ano. “Estamos reduzindo o déficit, mas as reservas estão caindo”, alertou.
Cristiana defendeu a necessidade de um modelo de custeio sustentável e com regras claras de rateio. “O 70/30 daria fôlego de três anos para a Cassi apenas. É complexo, mas dá para avançar se o banco tiver interesse. Queremos quebrar o paradigma de que os trabalhadores só perdem e o banco só ganha poder”, afirmou.
Ela também abordou questões como o pós-laboral (os funcionários que entraram após 2018, não levam o plano para a aposentadoria), a reversão do voto de qualidade do presidente no Conselho Deliberativo e o ressarcimento pelo banco de gastos relacionados a doenças laborais.
Defesa da Cassi como plano dos funcionários
Priscila Aguirres destacou que a Cassi foi fundada pelos trabalhadores do BB e que eles devem cuidar e garantir que permaneça funcionando cada vez melhor, se mantendo como plano de autogestão voltado aos funcionários e não um plano de mercado. “Queremos manter a Cassi como ela é hoje, com toda assistência que oferece. O banco precisa reconhecer sua responsabilidade, já que é, em grande parte, o causador do adoecimento, e a Cassi que arca com consultas e medicamentos. Precisamos garantir sua sustentabilidade e perenidade”, ressaltou.
Conforme a dirigente, os trabalhadores devem pressionar o BB a investir na Cassi, por ser um plano barato para o banco e oferecer uma ampla estrutura para os associados. Ela enfatizou a importância de ampliar o debate com os colegas e engajar mais bancários na mobilização. “É um debate complexo, por isso temos que levar essa discussão para a Conferência Nacional e trazer mais gente para lutar junto”, salientou.
Previ: governança e desafios de comunicação
Sobre a Previ, Priscila, que é conselheira fiscal da entidade, lembrou o modelo de governança paritária como um diferencial que garante autonomia para os representantes dos trabalhadores. “Nosso grande trunfo é a governança da Previ. Temos paridade entre eleitos e indicados, o que ajuda a filtrar os temas levados para discussão. Precisamos manter essa força para garantir que os investimentos sejam feitos de forma segura e nossas aposentadorias sejam pagas no futuro”, disse.
A dirigente também falou sobre os ataques à Previ, com a difusão de notícias falsas e a necessidade de melhorar a comunicação com os associados, a fim de desmentir rapidamente informações distorcidas. “Temos que ter uma comunicação mais eficiente, para que chegue a mais pessoas e seja mais direta. Estamos trabalhando nisso, mas precisamos profissionalizar a disputa de narrativa”, comentou. Ela indicou que os colegas utilizem os canais oficiais, aplicativo e site da Previ, para se informar.
Papel social e ambiental do BB
Bianca Garbelini, diretora do SindBancários e secretária da Contraf-CUT, abordou a conjuntura política desafiadora, com disputas internas no Congresso, e a necessidade de defender o caráter público do BB. Ela destacou o papel do banco no financiamento da agricultura familiar e projetos sustentáveis.
“O BB está aquém do que deveria em seu papel social. Embora o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) tenha sido ampliado, ainda é pouco. O banco é o maior financiador do agronegócio, mas precisa apoiar mais a agroecologia e os pequenos produtores, não o agro que só exporta, age de forma predatória com o meio ambiente e não contribui para melhorar a alimentação do povo brasileiro”, defendeu.
A dirigente sugeriu resoluções para cobrar que o banco adote iniciativas que priorizem o financiamento sustentável e o atendimento à população mais vulnerável, especialmente diante da crise climática.
Mobilização e próximos passos
O encontro estadual discutiu estratégias para engajar mais trabalhadores na defesa da Cassi e outras pautas, incluindo a ideia de organizar dias de luta nacional durante as mesas de negociação, abaixo-assinados virtuais e formas de divulgação para atrair colegas ainda desinformados sobre os temas.
O Congresso Nacional dos Funcionários do BB ocorrerá nos dias 21 e 22 de agosto, em São Paulo. Encontros de trabalhadores de outros bancos também serão realizados, culminando na Conferência Nacional dos Bancários, de 22 a 24 de agosto.
Fonte: SindBancários Poa Região